veio e forma
memorial descritivo
O processo artístico teve início com o trabalho de corte e lixamento de peças de madeira de diferentes tamanhos que se transformaram em 22 peças que compuseram um vocabulário formal. Essas matrizes exploradas primeiramente pela superfície, revelam a resistência do veio perante a tinta, verdade material impressa nas inúmeras xilogravuras realizadas em quatro tardes de extensa experimentação semântica e cromática. O abandono da bi-dimensionalidade da matriz já dotada de cor para assumir seu valor escultórico, se deu na etapa final desse processo. Bem como a composição das formas impressas resultam na gravura, a composição como elementos espaciais, resultaram na instalação. Pequenos ganchos foram pregados às peças, possibilitando a amarração de fios que articulam a matriz aos galhos de uma grandiosa Tipuana.
ficha técnica
ano: 2018
cidade: são paulo
bairro: cidade universitária
tipo: série de gravuras
e instalação
“O mundo como experiência diz respeito à palavra princípio EU-ISSO. A palavra princípio EU-TU fundamenta o mundo da relação. A palavra princípio EU-ISSO não pode jamais ser proferida pelo ser em sua totalidade. A palavra princípio EU-TU só pode ser proferida pelo ser na sua totalidade.”“Eu não posso experienciar ou descrever a forma que vem ao meu encontro; só posso atualizá-la. [...] Eu estou numa autêntica relação com ela; pois ela atua sobre mim assim como eu atuo sobre ela.”
BUBER, Martin. Eu e Tu.
Original de uma afinidade com a materialidade da madeira, que como símbolo de busca pela luz, se expande do núcleo mínimo da inconsciência terrena, cria raízes e mira em direção ao céu, surgiu uma vontade de trabalhar sua matriz expressiva. Um olhar atento e sincero às formas da natureza, revelam a ausência de qualquer geometria racionalizada, as ‘formas orgânicas’ não possuem patentes nem nomenclaturas, mas no entanto, existem e expressam individualidade e anseio de serem percebidas.O seguinte projeto surge da fusão daquela materialidade com esse repertório formal, dentro de um espaço de experimentação. Na valorização da relação exclusiva ao instante do EU artista com o TU forma e matéria. Destituído de projeto, desenho ou imagens concretas do que viria a ser o produto final, me lancei ao risco, de manter a integridade dessa relação existencial formadora durante o processo. A relação como princípio da criação
A montagem da instalação ‘Veio e Forma’ se deu na sombra da árvore numa tarde ensolarada, onde eu e mais de dez amigos da FAU compusemos o que veio a ser a forma final da instalação. O partido foi relacionar-se com a árvore. Todo o resto foi livre. Depois de uma leitura do texto de Buber, cada um subia ao encontro de um lugar a ser posto a peça. Imersos num diálogo espacial sensível e não calculado, a composição desconheceu um projeto.
A instalação esteve montada entre novembro e dezembro de 2018